Falar sobre formação, reconhecimento e legitimidade profissional exige mais do que explicar instituições e apresentar credenciais — por isso, a equipe da Elaine Pinheiro trouxe este texto com o objetivo de acolher cada pessoa que busca, de forma contínua, crescer, aprender e cuidar da própria prática clínica com responsabilidade.
Em muitos momentos da trajetória profissional, surgem dúvidas sobre qual caminho seguir. Às vezes, essa dúvida vem logo no início, quando tudo ainda parece um terreno inexplorado. Outras vezes, ela aparece no meio do caminho, quando já existe um acúmulo importante de experiências, mas a sensação de “falta alguma coisa” ainda insiste em aparecer.
Seja qual for o momento, o movimento de busca por uma formação mais sólida, por vínculos institucionais mais sérios ou por pertencimento a espaços reconhecidos no campo da saúde mental é sempre legítimo — e geralmente, necessário. E é exatamente aqui que entra a AIPA (Associação Internacional de Psicanálise e Aconselhamento).
Para quem busca um espaço de formação ética, acolhedora, comprometida com a clínica psicanalítica contemporânea e com a construção de uma trajetória sólida, a AIPA tem sido, há anos, um ponto de encontro potente entre profissionais de diferentes lugares do Brasil e do mundo.
O que é a AIPA e qual o papel de uma associação profissional?
A AIPA é uma entidade que promove formação, certificação, regulamentação e pesquisa no campo da psicanálise, psicoterapia e aconselhamento psicológico, com base em princípios éticos, científicos e clínicos. Seu papel, no entanto, vai muito além da emissão de um título ou da chancela de um currículo.
A associação funciona como um organismo vivo, que reúne pessoas, ideias e práticas em torno de um objetivo comum: cuidar da escuta clínica de forma ética, qualificada e em constante atualização.
Pertencer a uma associação como a AIPA não é apenas uma formalidade curricular. É um gesto de responsabilidade. Um modo de dizer: eu escolhi me formar com cuidado, me supervisionar com rigor e me alinhar a princípios que respeitam a subjetividade e a complexidade do sofrimento psíquico.
Em termos práticos, a AIPA oferece:
- Formações em psicanálise com ênfase clínica e estrutura curricular atualizada;
- Grupos de estudo e pesquisa, que aprofundam temas contemporâneos relevantes para a prática;
- Supervisão clínica individual e em grupo, com profissionais experientes;
- Certificação profissional, para atuação ética e segura;
- Rede de pertencimento, que fortalece a trajetória clínica de cada membro.
Nada disso é feito com pressa. Nada disso se sustenta em fórmulas prontas. E talvez, por isso mesmo, tantas pessoas escolham seguir junto à AIPA.
Mais do que formar, sustentar o cuidado
Sabemos que uma boa formação precisa ir além do conteúdo técnico. Ela deve oferecer um espaço de reflexão, troca e elaboração constante — e isso acontece, muitas vezes, quando estamos cercados de pessoas que partilham de valores semelhantes aos nossos.
Na AIPA, isso é evidente. Há um clima de escuta, de respeito à singularidade de cada trajetória e de valorização da prática clínica viva, que não se reduz a manuais ou respostas automáticas. O saber é construído no diálogo. A teoria é testada na experiência. E o conhecimento é mantido em movimento.
Isso cria uma sensação real de pertencimento. E mais do que isso: cria uma base segura para sustentar o cuidado que oferecemos a quem nos procura no consultório.
Porque, sejamos honestos, cuidar dos outros exige muito. E, para que esse cuidado seja ético e não se transforme em exaustão, é essencial que quem cuida também tenha onde se apoiar.
O que diferencia a AIPA outras formações soltas?
É comum encontrar hoje uma imensa oferta de cursos, formações rápidas, workshops e treinamentos no campo da psicologia, da psicanálise e da saúde mental. Muitos têm valor, claro. Mas há uma diferença fundamental entre fazer cursos isolados e integrar-se a uma instituição com corpo docente, projeto pedagógico e diretrizes éticas consistentes.
Ao longo da nossa escuta com profissionais em formação e em atuação clínica, percebemos alguns fatores que tornam essa diferença evidente:
- Acompanhamento real da trajetória profissional;
- Supervisão estruturada e periódica, com escuta qualificada;
- Material didático aprofundado, com base em autores clássicos e contemporâneos;
- Processo seletivo e avaliação contínua, que garantem compromisso mútuo entre instituição e aluno;
- Reconhecimento formal com certificações válidas, respaldadas por critérios claros e verificáveis.
Esses pontos criam um contexto formativo coerente. E, com isso, não apenas aprendemos mais: nos tornamos mais capazes de sustentar uma prática clínica que respeita o outro — e também a nós mesmos.
Por que isso importa na prática?
Importa porque, sem esse tipo de base, é comum que a escuta se fragilize. A dúvida sobre a própria capacidade cresce. E muitas vezes, o que começa como entusiasmo vira um sentimento de inadequação.
Ao contrário, quando estamos inseridos em um contexto que oferece suporte real e constante, a escuta clínica se expande. Ganhamos recursos para lidar com o silêncio, com o sofrimento que não cabe em palavras, com os impasses técnicos e éticos que aparecem em qualquer consultório.
E essa expansão, ao contrário do que parece, não exige pressa. Exige continuidade. Exige constância. Exige, sim, vínculo com espaços que cuidam de quem cuida.
O que observar antes de escolher uma associação profissional?
Sabemos que essa escolha pode parecer difícil. Por isso, deixamos abaixo uma lista com pontos que ajudam a pensar com clareza e profundidade sobre o que deve ser levado em conta ao buscar uma instituição séria na área da saúde mental:
- Quem são os profissionais responsáveis pela formação? Eles têm atuação clínica ativa, publicações, supervisões?
- Existe um projeto pedagógico claro, ético e alinhado às demandas clínicas contemporâneas?
- Há espaço para supervisão clínica, além do conteúdo teórico?
- A formação inclui escuta sobre o processo formativo do aluno?
- A instituição tem vínculo com outras redes ou associações reconhecidas?
- Os títulos emitidos seguem parâmetros legais e éticos?
- A metodologia de ensino valoriza a prática clínica viva e a singularidade do sujeito?
- Existe compromisso com a ética, a ciência e a complexidade da saúde mental?
Quando esses critérios estão presentes, algo muito importante começa a se formar: uma relação de confiança. E essa confiança se estende à forma como cuidamos das pessoas que chegam até nós.
Pertencer é mais do que ter um nome no certificado
Há quem busque apenas o diploma. E há quem busque um caminho. Um lugar onde o aprendizado seja constante, a ética esteja viva, e a escuta, em movimento.
A AIPA tem sido esse lugar para muitas pessoas. E é por isso que, ao escrever este texto, escolhemos mais do que apresentar uma instituição. Escolhemos abrir espaço para refletir sobre o tipo de formação e vínculo institucional que realmente faz diferença na clínica e na vida.
Quem já passou por uma formação profunda sabe: não é apenas sobre estudar, mas sobre transformar o modo de escutar, de acompanhar, de se responsabilizar. É sobre sustentar a própria prática com consistência, e fazer disso um gesto de cuidado com o outro.
E, no fim das contas, é isso que segue nos movendo: o desejo de cuidar com presença, com ética e com escuta real.
O que sustenta uma formação viva? entre ética, escuta e presença
Falar sobre formações em psicanálise, psicoterapia e aconselhamento vai muito além de repetir o que já está dito em sites institucionais ou programas curriculares. A intenção aqui é dar corpo ao que realmente sustenta uma formação que se sustenta: aquela que toca, transforma e respalda a prática clínica com dignidade, sem atalhos, e com o tipo de profundidade que só quem escuta diariamente o sofrimento alheio conhece.
Não se trata de criar fórmulas. Muito menos de reforçar aquela sensação de que há um degrau inalcançável entre o que se faz e o que se deveria fazer. Ao contrário: nossa proposta é construir pontes. Pontes entre a experiência e a teoria, entre o desejo de cuidar bem e os recursos possíveis, entre a escuta ética e o espaço para continuar aprendendo.
É por isso que, nesta etapa do artigo, vamos nos aprofundar em alguns pilares da formação em saúde mental com base psicanalítica oferecida pela AIPA — uma associação que compreende, na prática, que ninguém cuida bem sozinho.
Etica que se sustenta na prática (e não apenas no discurso)
Muita gente fala sobre ética. Pouca gente a sustenta quando o cotidiano aperta. Uma formação séria não evita conflitos, mas ensina a manejá-los com responsabilidade. Na AIPA, ética não é um capítulo teórico, mas atravessa todas as camadas do processo formativo — da supervisão ao material bibliográfico, da escuta em sala de aula às orientações institucionais.
Isso significa que:
- O que é dito em aula não é desconectado da vida;
- O saber do aluno é respeitado, mas também tensionado, para que se amplie;
- As relações entre colegas e professores são atravessadas por cuidado real;
- Os limites da atuação clínica são discutidos com profundidade, sem dogmatismo.
Nessa perspectiva, a ética ganha corpo. Ela não se transforma em um código de conduta rígido, mas se torna uma espécie de bússola interna — uma orientação que permite tomar decisões clínicas com base na escuta, na responsabilidade e na presença. Isso só é possível quando se está num lugar que ensina não apenas o conteúdo, mas o modo de estar com ele.
Escuta como eixo da formação: mais do que ouvir, sustentar
Outro traço muito presente nas formações da AIPA é a valorização da escuta como eixo clínico e formativo. Ao contrário de abordagens que enfatizam apenas o domínio técnico ou teórico, aqui o foco está em sustentar a escuta como prática viva — complexa, exigente, mas absolutamente necessária.
Escutar, nesse contexto, significa:
- Abrir espaço para o que não é dito diretamente;
- Suportar silêncios que não pedem pressa;
- Acompanhar o tempo psíquico do outro com atenção;
- Reconhecer limites sem patologizar processos singulares.
Formar-se em escuta é um processo que atravessa o tempo. Não se aprende da noite para o dia. E, justamente por isso, precisa estar ancorado em uma estrutura que ofereça sustentação. Supervisão, grupos de estudo, acompanhamento ético e compartilhamento de experiências são práticas centrais nesse percurso.
Ao invés de buscar o domínio total da técnica, o que se cultiva é uma relação mais cuidadosa com a própria prática. E, curiosamente, é nesse lugar — onde há abertura para a dúvida — que a potência clínica mais cresce.
Entre o saber e o não saber: o lugar da humildade na formação
É comum que, ao longo do caminho formativo, surja a sensação de que ainda falta muito a saber. E isso é verdadeiro. Mas não precisa ser paralisante. Ao contrário, quando acolhida com cuidado, essa percepção pode se tornar uma fonte profunda de potência clínica.
A AIPA sustenta essa perspectiva de forma ativa. O saber não é tratado como um acúmulo, mas como um campo de trânsito. Um lugar por onde se passa, onde se para para escutar, onde se elabora junto com os outros. O que importa não é saber tudo — é poder estar em formação contínua, de modo ético e comprometido.
Por isso, é comum ver profissionais em diferentes momentos de trajetória partilhando o mesmo espaço formativo: iniciantes, pessoas com décadas de experiência, estudantes, supervisores. Todos se escutando, todos se deslocando, todos sustentando, com seriedade, a ideia de que ninguém cuida sozinho.
Lista prática: sinais de que uma formação é viva, ética e confiável
Com base em nossa vivência em formação, supervisão e coordenação de grupos clínicos, reunimos abaixo alguns sinais que geralmente indicam que uma formação está viva — ou seja, alinhada com os princípios que sustentam uma escuta clínica real, ética e possível.
Esses sinais podem ser percebidos logo nas primeiras interações com a instituição ou no decorrer do processo. Fique atento(a) a:
- Acolhimento genuíno durante o processo seletivo, sem promessas irreais;
- Clareza nos objetivos formativos e nos critérios de avaliação;
- Bibliografia de base sólida, com autores clássicos e contemporâneos;
- Abordagem teórica coerente com as práticas clínicas propostas;
- Presença de supervisão como parte da formação (e não opcional);
- Incentivo à escuta coletiva, por meio de grupos e fóruns internos;
- Postura ética dos docentes, sem hierarquias autoritárias ou rigidez desnecessária;
- Possibilidade de trazer casos clínicos reais para discussão;
- Valorização da singularidade de cada aluno, sem homogeneizações forçadas;
- Compromisso com a atualização contínua da prática clínica.
Essa lista não é um checklist para marcar e seguir adiante. Mas pode ajudar a pensar, com mais calma e profundidade, sobre o tipo de vínculo que se deseja construir com a formação — e com a prática que ela sustenta.
Pertencimento como base de confiança profissional
Nem sempre é fácil falar sobre pertencimento. Para muitos, essa palavra carrega a lembrança de espaços onde não houve escuta, ou onde a experiência foi invalidada. Mas há algo de reparador quando se encontra um espaço onde se pode ser, aprender, errar, refazer, compartilhar.
A AIPA tem sido, para muitas pessoas, esse espaço. Um lugar onde o pertencimento não é imposto, mas construído com o tempo, a partir da escuta, da ética e da convivência. E esse pertencimento não é apenas simbólico — ele reverbera diretamente na prática clínica.
Profissionais que se sentem pertencentes:
- Têm mais segurança para sustentar limites éticos em situações difíceis;
- Sentem-se autorizados a fazer pausas, revisões e recomeços;
- Confiam mais na própria escuta, mesmo diante de casos complexos;
- Buscam formação contínua sem culpa ou cobrança excessiva;
- Sabem a quem recorrer quando a prática se torna desafiadora demais.
Esse tipo de confiança não nasce do nada. Ele é cultivado em espaços que validam a dúvida, que acolhem a experiência e que sustentam o compromisso com a formação viva.
Quando o conteúdo se conecta com a vida clínica
A partir da nossa vivência como equipe da Elaine Pinheiro, não existe diferença real entre o conteúdo de uma formação e o tipo de clínica que ela permite sustentar. Por mais que esse discurso já tenha virado senso comum em muitos espaços formativos, ainda é possível perceber, com frequência, uma desconexão entre o que se estuda e o que se enfrenta no cotidiano do atendimento clínico.
Na AIPA, isso tem sido cuidado com especial atenção. A grade curricular, os encontros, os temas e as atividades não são apenas pensados para “preparar” alguém para o consultório. Eles partem do pressuposto de que a vida clínica já está acontecendo, de algum modo, em cada um. Por isso, a escuta que se oferece em sala é a mesma que se deseja cultivar na clínica: uma escuta que não isola, que não simplifica e que respeita o tempo interno de quem aprende e de quem sofre.
Essa perspectiva transforma completamente a experiência de formação. Ao invés de sentir que se está se preparando para um lugar que ainda não existe, começa-se a perceber que o lugar da prática já está sendo construído aqui e agora, com cada leitura, cada caso compartilhado, cada silêncio escutado com presença.
Conteúdos que atravessam a prática: entre teoria e experiência
Não é incomum ver formações que priorizam ou a técnica ou a teoria. Mas há um risco enorme em colocar esses dois campos em oposição. A técnica sem sustentação teórica se esvazia. A teoria sem aplicação prática vira acúmulo. É por isso que a AIPA organiza seus conteúdos de forma transversal: o que é estudado precisa fazer sentido clínico, ético e experiencial.
Veja alguns exemplos de como isso aparece na prática:
- A escuta do sofrimento psíquico é sempre atravessada pelas questões sociais que o compõem;
- A noção de sintoma é abordada a partir da singularidade de cada caso, não como uma generalização diagnóstica;
- Os autores estudados são colocados em diálogo entre si e com as experiências trazidas em supervisão;
- Os seminários e encontros formativos favorecem o pensamento clínico vivo, não a repetição de respostas prontas.
Com isso, o que se aprende não se esgota na aula. Ele reverbera no modo como se escuta o próximo paciente, no tipo de pergunta que se formula diante de uma queixa, na forma como se lida com o próprio limite profissional. Não é só teoria — é vida atravessando vida.
A importância da linguagem que acolhe sem infantilizar
Em muitos espaços de formação, ainda se percebe uma rigidez que mais afasta do que aproxima. A linguagem é técnica demais, a comunicação é fria, e a dúvida é tratada como sinal de incompetência. Isso, infelizmente, tem afastado muitas pessoas do percurso formativo.
A AIPA tem caminhado em outra direção. A comunicação dentro da formação é cuidadosamente pensada para ser acolhedora, clara e ética, sem abrir mão do rigor. As leituras indicadas vêm acompanhadas de contextos, explicações e caminhos possíveis. Os encontros formativos não seguem o modelo de “aula magistral”, mas se organizam como espaços de troca real.
Há um esforço contínuo para que a linguagem:
- Respeite a complexidade do conteúdo, sem simplificar demais;
- Permita que cada pessoa acesse o conhecimento a partir do seu lugar;
- Favoreça a compreensão sem gerar dependência;
- Convide à dúvida como parte legítima do processo de aprender.
Quando isso é feito com seriedade, o resultado aparece rapidamente. O conteúdo deixa de ser algo “difícil demais” ou “técnico demais” e passa a ser algo vivo, que pulsa junto com a escuta e com a prática.
O que diferencia um conteúdo formativo real
Com base no nosso acompanhamento próximo de profissionais em diferentes momentos da trajetória clínica, listamos alguns aspectos que costumam aparecer quando o conteúdo da formação está, de fato, conectado com a vida e a prática:
- O conteúdo é atualizado com frequência, considerando novas produções clínicas e teóricas;
- Há coerência entre os temas estudados e os desafios reais dos atendimentos clínicos;
- Os materiais não são apresentados como “verdades absolutas”, mas como pontos de partida para reflexão;
- As leituras são comentadas em grupo, o que favorece múltiplos olhares e significados;
- Os docentes falam com presença, a partir da própria vivência clínica;
- Os conteúdos promovem deslocamentos, e não apenas confirmações;
- Existe espaço para escutar o impacto subjetivo que o conteúdo provoca em cada um;
- A formação não busca formar “especialistas”, mas pessoas mais capazes de sustentar uma escuta ética e singular;
- Os temas complexos não são evitados, mas tratados com cuidado e tempo.
Essa conexão entre conteúdo e prática transforma a experiência de aprender. Ela mostra que o conhecimento não serve apenas para “explicar” o que se faz — ele serve, sobretudo, para ampliar as possibilidades de escuta, intervenção e cuidado.
Supervisão como atravessamento contínuo
Outro aspecto que sustenta a formação oferecida pela AIPA é a presença ativa da supervisão clínica como parte orgânica da formação — não como um módulo à parte, nem como uma exigência formal. A supervisão é o lugar onde teoria e prática se encontram de forma mais intensa e mais reveladora.
Durante a supervisão, não se trata apenas de discutir um caso ou “resolver um impasse”. O que se constrói é um espaço de análise compartilhada, onde cada pessoa pode olhar para o próprio gesto clínico com mais clareza e menos culpa. A escuta do supervisor não é hierárquica, mas também não se omite diante de repetições ou equívocos. O objetivo não é corrigir: é ampliar a consciência sobre o que está sendo feito — e por quê.
Esse processo costuma gerar efeitos importantes na formação:
- Ajuda a reconhecer padrões que se repetem na clínica e que podem ser repensados;
- Oferece um espaço seguro para trazer dúvidas, angústias e inseguranças sem ser julgado;
- Estimula o pensamento clínico crítico, que não se satisfaz com explicações rápidas;
- Convida ao cuidado ético com os próprios limites e com os limites do outro;
- Promove escuta horizontal, mesmo em espaços marcados por experiências distintas.
Ao ser incorporada desde o início da formação, a supervisão deixa de ser um “acessório” e se torna uma aliada contínua da prática clínica. É ela quem sustenta, muitas vezes, os momentos em que a escuta parece falhar. E, por isso mesmo, é ela quem permite que se continue.
Quando a formação ensina a sustentar o próprio passo
Chega um momento na formação em que não se trata mais de aprender novos conceitos, mas de sustentar, com presença e ética, os passos que já estão sendo dados. Esse é um ponto fundamental — e delicado. Porque é aqui que muitos desistem. Sentem que já sabem o suficiente, ou que “nada mais vai mudar”. Mas é justamente aqui que a formação começa a operar com mais profundidade.
Na AIPA, essa travessia é reconhecida e sustentada com atenção. Não há cobrança para acelerar. Mas há cuidado para que o ritmo não seja determinado apenas pelas exigências externas. Cada pessoa é convidada a escutar o próprio tempo de formação, sem medo de rever, refazer ou recomeçar.
E é justamente esse espaço — onde se pode errar, revisar, sustentar e seguir — que torna a formação algo tão potente. Porque, no fundo, aprender a sustentar o próprio passo é aprender a sustentar o passo do outro. E isso é, talvez, o que mais importa no cuidado clínico.
Quando a dúvida vira ponto de partida
Há algo muito honesto — e ao mesmo tempo potente — na dúvida que surge no meio do caminho. Às vezes ela aparece silenciosa, em forma de cansaço. Outras vezes, grita com mais força: “será que estou mesmo no caminho certo?” ou “isso que eu sinto tem lugar na formação?”. Essa dúvida, ao contrário do que muitos pensam, não é um sinal de fraqueza. É o reflexo de quem está em movimento, de quem não opera no automático, de quem tem compromisso com o que faz.
Na AIPA, temos aprendido, com cada pessoa que passa pela formação, que a dúvida é mais do que legítima. Ela é o próprio gesto de cuidado. Quem se pergunta, se escuta. E quem se escuta, encontra novos jeitos de sustentar a escuta do outro. É por isso que nenhum percurso formativo é feito sem tropeços, sem pausas, sem recomeços.
Essa etapa do artigo é dedicada justamente a isso: à escuta de quem tem dúvidas e, mesmo assim, segue. Porque talvez o mais transformador de uma formação clínica não seja o conteúdo, nem os livros, nem os títulos — mas o modo como, aos poucos, a pessoa vai se transformando naquilo que sustenta: alguém capaz de escutar o outro, sem se abandonar no meio do processo.
Perguntas que chegam junto com o cansaço
É natural que, em algum momento, as perguntas fiquem mais pesadas. E, às vezes, nem são novas. Só ficaram mais nítidas.
- Será que estou conseguindo aplicar o que aprendi na clínica?
- E se eu estiver interpretando mal?
- Estou mesmo escutando ou apenas reproduzindo o que li?
- Por que parece que algumas sessões não caminham?
- Será que essa formação está me atravessando de verdade?
Essas perguntas, que muitas vezes aparecem em silêncio, são atravessadas de exigência. E o que temos visto é que, quando o espaço formativo é ético, essas exigências não são descartadas nem minimizadas. Elas são escutadas, sustentadas e trabalhadas com tempo. Porque não se trata de responder com pressa, mas de construir um espaço onde seja possível continuar perguntando — sem medo de parecer frágil ou “desalinhado”.
Na AIPA, é isso que tem sido feito: criar uma formação que não só aceita, mas convida ao questionamento constante. Porque quem não se pergunta, repete. E quem repete demais, para de escutar.
Entre tropeços e retomadas: o valor de continuar
É preciso dizer com todas as letras: não há formação clínica que se sustente sem rupturas. Elas vão acontecer. Vão haver momentos em que a vontade de parar parece maior do que o desejo de seguir. E está tudo bem. Porque continuar não é o mesmo que não falhar — continuar é reconhecer o tropeço e ainda assim escolher seguir em direção ao que faz sentido.
Esse processo, quando é legitimado, se transforma em força. Quem já parou, quem já pensou em desistir, quem já se sentiu fora do eixo — e mesmo assim voltou — costuma trazer uma escuta mais generosa, mais atenta, mais humana. Não porque se tornou “melhor”, mas porque sabe o que é sentir-se perdido, e isso muda a forma de olhar para quem também está buscando um caminho.
Há um trecho de Winnicott que costuma ecoar muito nesses momentos: “é no brincar, e talvez apenas no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar a personalidade integral.” Talvez, em vez de nos cobrarmos por uma linearidade irreal, o que nos cabe seja sustentar o brincar interno — aquele que nos permite buscar, tropeçar e retomar o fôlego sempre que for necessário.
Quando a prática clínica se torna um lugar de construção e não de cobrança
Há uma diferença fundamental entre uma prática clínica orientada por escuta e uma prática clínica orientada por desempenho. A primeira acolhe as limitações como parte do processo; a segunda transforma cada dificuldade em motivo de culpa.
Na AIPA, aprendemos diariamente que o consultório não é lugar de perfeição. Ele é um território de relação, de presença, de tentativa e erro. Cada sessão é única. E mesmo quando parece que “não aconteceu nada”, algo foi colocado em movimento. Muitas vezes, os maiores deslocamentos acontecem em silêncio — no que não é dito, no que não foi interpretado, no que ainda está por vir.
É por isso que o cuidado com a formação clínica vai além do conteúdo: ele passa por uma ética do olhar. Não se trata apenas de saber o que fazer com o sofrimento do outro, mas de reconhecer o que se move dentro de si diante desse sofrimento. Só assim a escuta se torna verdadeira. Só assim ela se sustenta com dignidade.
Lista reflexiva: sinais de que a formação está produzindo efeitos
Sabemos que os efeitos de uma formação não são imediatos. Eles não aparecem em forma de diploma ou certificado. Mas há sinais. Pequenos, sutis, mas profundamente transformadores.
- Você começa a escutar com mais presença — mesmo quando não entende tudo de imediato;
- A pressa por interpretar diminui, e o silêncio passa a ter um valor novo;
- Os impasses clínicos não são vistos como fracassos, mas como espaços de elaboração;
- O desejo de continuar estudando se renova, não por obrigação, mas por curiosidade;
- A escuta do outro passa a reverberar dentro, provocando perguntas, deslocamentos, pausas;
- A supervisão deixa de ser um espaço de correção e vira um lugar de construção conjunta;
- As leituras ganham novos sentidos, porque agora estão atravessadas por experiências reais;
- O medo de errar não desaparece, mas deixa de paralisar.
Esses sinais não precisam ser forçados ou exibidos. Eles simplesmente acontecem. Quando o percurso é respeitado no seu ritmo, quando o cuidado com a formação é levado a sério, os efeitos aparecem — e permanecem.
Encerrar não é o fim: é outra forma de começar
Ao final de uma formação como a da AIPA, é comum que surjam sentimentos mistos. Há alívio, claro. Mas também há um certo vazio. Porque, de alguma forma, o percurso já se tornou parte de quem se é. Mas é importante lembrar: encerrar um ciclo não significa que o processo acabou.
Significa apenas que ele está assumindo uma nova forma. A escuta continua. O desejo de aprofundar continua. E, com frequência, os vínculos criados na formação se transformam em redes de apoio, de supervisão, de partilha clínica. O aprendizado não se apaga — ele se inscreve no modo de olhar, de perguntar, de sustentar.
Por isso, o convite que deixamos ao final desta etapa não é um ponto final, mas uma vírgula: permita-se continuar. Com as ferramentas que tem, com as dúvidas que carrega, com o desejo que pulsa — mesmo que às vezes se esconda.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. É possível aplicar o que aprendi na formação desde o início?
Sim. Desde que seja feito com presença e cuidado. O aprendizado não precisa ser “completo” para começar a operar na prática.
2. Ainda sinto insegurança na clínica. Isso é normal?
Mais do que normal, é saudável. A insegurança mostra que você está atento, comprometido e disposto a aprender continuamente.
3. E se eu não me identificar com todos os autores estudados?
Faz parte. O importante é manter-se aberto ao diálogo teórico e encontrar os que fazem mais sentido para sua prática.
4. A supervisão é obrigatória?
Ela não é apenas uma exigência institucional — é uma escolha ética. A supervisão oferece sustentação para o que, sozinho, poderia pesar demais.
5. Preciso me sentir “pronto” para atuar?
A prontidão clínica é um processo contínuo. Ninguém está 100% pronto. Mas é possível estar disponível, atento e ético desde o começo.
A clínica como caminho ético
Se há algo que aprendemos ao longo desses anos acompanhando o processo de formação de tantos profissionais é que a clínica não é um lugar que se alcança, mas um modo de estar no mundo. E esse modo exige escuta, ética, presença e, acima de tudo, disposição para seguir em movimento — mesmo quando o caminho parece incerto.
A AIPA não oferece respostas prontas, porque entende que o cuidado clínico começa justamente quando se desiste de querer controlar tudo. O que se constrói aqui é mais profundo: um jeito de pensar, de sentir, de escutar e de cuidar que acompanha cada pessoa para além do tempo de aula, para além dos títulos, para além do consultório.E talvez seja exatamente isso que sustenta a formação de quem escuta: a certeza de que ainda há o que aprender — sempre.





